O que significa ser
religioso? O que é um
espiritualista? E um
espírita, o que faz?
Esses questionamentos são bem comuns e as pessoas possuem uma certa dúvida do que essas nomenclaturas realmente significam… e não são poucas! A confusão com as palavras
religião,
espiritualidade e
espiritismo (consequentemente, religioso, espiritualista e espírita) não é de hoje e, na verdade, com a realidade de informações que temos atualmente, esses termos acabam vindo mais à tona, intensificando as dúvidas.
Há uma diferença bem considerável entre um significado e outro e neste texto vou abordar um pouco do que eles significam.
Uma pessoa
religiosa é quem segue uma
religião e religião engloba a fé e a devoção das pessoas ao que é considerado sagrado. É um conjunto de princípios, crenças, doutrinas, pensamentos e direcionamentos baseados em livros sagrados, que unem pessoas a um mesmo propósito. A religião reúne seus seguidores (os religiosos) em um local sagrado (templo, igreja, mesquita etc.) para o culto às suas crenças. As pessoas buscam uma religião para terem algo a seguir, amparam-se nas palavras divinas para guiarem suas vidas, tentando torná-las melhor. Exemplo de religiões: Católica, Umbanda, Evangélica, Adventista, etc.
Aproveitando o ensejo da religião, o
espírita é aquele que segue o
Espiritismo, que é considerada uma religião. O Espiritismo, ou Doutrina Espírita, ou ainda Kardecismo, surgiu a partir da codificação do francês Hippolyte Léon Denizar Rivail, que usava o pseudônimo Allan Kardec. A doutrina espírita iniciou da união entre ciência, filosofia e religião e tem como literatura doutrinadora os livros
O Livro dos Espíritos,
O Livro dos Médiuns,
O Evangelho segundo o Espiritismo,
O Céu e o Inferno e
A Gênese, codificados por Allan Kardec. As obras trazem informações canalizadas das esferas espirituais e trouxeram à tona a capacidade que o homem possui de se comunicar com o “extra-físico”, isto é, falar com os espíritos, de onde propagou-se os termos “médium” e “mediunidade”. As informações trazidas nesta literatura, provinda dos espíritos que se comunicavam com Kardec e lhe respondiam diversos tipos de questionamentos, originaram essa religião, que na verdade considera-se mais uma doutrina, que significa conjunto de princípios que servem de base a um sistema, que pode ser literário, filosófico, político e religioso.
Portanto,
espírita/
espiritismo difere, em seu significado teórico, dos termos
espiritualista/
espiritualidade. Um espiritualista não necessariamente é um espírita e vice-versa.
Com isso, chegamos ao prisma da
espiritualidade. Mas, afinal, o que é espiritualidade e o que significa ser um espiritualista?
Para começar, é importante que se deixe claro que
espiritualidade não está obrigatoriamente ligada a religião. As pessoas podem encontrar a sua espiritualidade dentro de uma religião, mas não é condição precedente estar em uma religião. A espiritualidade é uma condição, um estado ou uma filosofia, que a pessoa possui de estar em conexão com o que é espiritual, ou seja, a sua condição como um espírito em evolução, buscando ser melhor a cada dia. É uma propensão humana de buscar o sentido da vida e para a vida, não somente por meio de questionamentos e definição de conceitos transcendentais, mas também através de seu estilo de vida, através de suas práticas e de sua conduta.
A pessoa espiritualizada acredita e vive de acordo com o pensamento de que há algo além desta vida, que há mais do que somente um corpo físico, isto é, uma essência, uma alma, um espírito, que precisa evoluir através do equilíbrio de ações, pensamentos, sentimentos e emoções. O espiritualista acredita em uma energia maior, uma força maior que governa o Universo, não necessariamente denominando-se Deus. Com isso, a pessoa espiritualizada sabe que um Deus caracterizado como um velho barbudo que pune e julga os “pecadores” não existe, e sim que Deus está dentro de cada um, por sermos conectados com o todo, fazendo parte do Universo e não sendo “donos” dele. O espiritualizado acredita em um “Deus”, ou em um conjunto de Divindades, não centralizando e delimitando a sua crença.
As religiões, através de suas crenças e doutrinas, podem levar as pessoas à espiritualidade, inclusive muitos religiosos realizaram grandes feitos e trouxeram grandes bênçãos pra humanidade através de suas práticas em suas respectivas religiões, sendo grandes espiritualistas acima de tudo. Grandes Mestres deixaram legados maravilhosos para a humanidade enquanto viveram, auxiliando a nos conduzir por um caminho do bem, do amor e da fraternidade. Sobre esse assunto, indico fortemente a leitura do imperdível livro
Grandes Mestres da Humanidade, da autora Patrícia Cândido.
Porém, conforme já dito, pertencer a uma religião não é requisito para adentrar na espiritualidade. Tanto é que, atualmente, podemos encontrar milhares de pessoas que se dizem
Universalistas, ou seja, pessoas que não possuem apenas uma crença, estão abertas, com respeito acima de tudo, ao que cada religião pode oferecer. Pessoas Universalistas frequentam templos e locais sagrados, movidas principalmente por aquilo que as fazem se sentir bem, que as fazem encontrar o equilíbrio, que fazem com que suas almas suspirem e se engrandeçam. Universalistas seguem o caminho do seu coração e da sua alma.
Religião x Espiritualidade
A religião é um caminho até Deus, mas não é Deus. Assim como podemos encarar a religião como o rótulo da garrafa e, a espiritualidade, o seu conteúdo. De nada adianta uma pessoa ser religiosa, defender com afinco a crença e o livro sagrado que segue, se ela não vive preceitos de espiritualidade, isto é, tentar ser uma pessoa melhor a cada dia, para si e para os seus irmãos. Pois, veja bem, a espiritualidade não é uma condição religiosa, porém parte primordialmente do princípio de que há um bem em cada um e que este deve ser estimulado e praticado, independente de credos.
Se alguém precisa de Religião para ser bom, a pessoa não é boa, é um cão adestrado. (Chagdud Tulku Rinpoche)
A espiritualidade é um modo de viver, baseado na calma, na paciência, em valores dignos, na conexão com a Natureza, no amor e na compaixão para consigo e com os semelhantes, na caridade, na essência e não na materialidade. A espiritualidade busca a plenitude, a paz interior, a felicidade verdadeira desprovida de apegos e egoísmos.
Há, inclusive, autores que trouxeram a questão da espiritualidade no meio ateísta, como o filósofo ateu Karl Marx, quando fala de uma “espiritualidade sem Deus”. Para ele, deve haver uma abertura para o ilimitado, tendo o homem o reconhecimento de se auto perceber como um ser relativo, mas aberto para o absoluto. Na visão Marxista, então, há esta dimensão misteriosa e ilimitada da existência, que não necessariamente necessita de explicação religiosa; uma experiência que vai além do intelecto.
Em resumo, podemos dizer que: a
Religião, de acordo com sua crença específica, instrui
o que fazer; o
Espiritismo, como uma doutrina, mostra uma maneira e um
caminho de fazer; a
Espiritualidade não centraliza, ela é individual e única… ela não é “fazer”, é “
ser”.
Infelizmente, há inúmeras pessoas que levam esses assuntos a um enfoque extremista e radical. Infelizmente, a intolerância religiosa causa sofrimentos e guerras. Infelizmente, ainda, há religiões que colocam verdadeiros cabrestos em seus discípulos (que os permitem, claro), fazendo-os acreditar que a verdade da sua religião é a verdade absoluta, tornando-se fanáticos intransigentes e intolerantes, não respeitando a crença de cada um e, acima de tudo, não entendendo que a religião X ou Y que se acredita não é o que faz uma pessoa melhor e digna do “Paraíso”, e sim o que ela faz em prol do seu Deus – suas atitudes e sua conduta. O importante é ter Deus não só na crença, mas também no coração, entendendo que se a sua religião não serve para torná-lo uma pessoa melhor, então ela não serve para nada e não cumpre o seu propósito divino.
Deus não tem nenhuma Religião. (Mahatma Gandhi)
As religiões – a espiritualidade – urgem por respeito. As religiões e a espiritualidade urgem por união! Conforme dito, a religião é um caminho até Deus, mas não é Deus. Se nem Jesus Cristo agradou a todos, como queremos que exista apenas UM ponto de vista? Religião deveria servir para abrir a mente e não moldá-la e reduzi-la a ignorâncias e desrespeitos alheios.
Namastê! (O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você)
Obs: sei que há diversos outros enfoques que o assunto engloba e que não trouxe aqui, porém é um assunto muito vasto e amplo. Apenas quis abordar o assunto conforme aquilo que eu acredito e busco praticar 😉